sábado, 1 de janeiro de 2011
No ano passado
"Já repararam como é bom dizer "o ano passado"? É como quem tivesse atravessado um rio, deixando tudo na outra margem....Tudo sim, tudo mesmo! Porque embora neste tudo incluam algumas ilusões, a alma está leve, livre, numa extraordinária sensação de alívio, como só se poderiam sentir as almas desencarnadas.
Mas no ano passado, como eu ia dizendo, ou mais precisamente, no último dia do ano passado deparei com um despacho do Associeted Press em que depois do anunciado como se comemoraria em diversos países da Europa a chegada do Ano Novo, informa-se o seguinte, bem que merece um parágrafo à parte:
" Itália quando soarem os sinos à meia noite, todo mundo atirará pelas janelas as panelas velhas e vasos rachados"
Ótimo! Meu ímpeto, modesto mas sincero, foi atirar-me eu próprio pela janela, tendo apenas no bolso, a guisa de explicação para as autoridades, um recorte do referido despacho.
Mas seria levar mito longe uma simples metáfora, aliás praticamente irrealizável, porque resido no andar térreo.
E por outro lado, metáforas a gente não faz para a polícia, que só quer saber de coisas concretas.
Metáforas são para aproveitar em versos...
Atirei-me,pois, metaforicamente , pela janela do tricentésimo-sexagésimo-quinto andar do ano passado.
Morri? Não; Ressuscitei.
Que isto da passagem de um ano pra outro é um corriqueiro fenômeno de morte e ressurreição - morte do ano velho e sua ressurreição como um ano novo, morte da nossa vida velha para uma vida nova."
Texto de Mário Quintana.
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É preciso morrer mesmo para as coisas que já passaram, as ruins ficarão muito bem enterradas, as boas ressuscitarão ainda melhores, com mais vigor, como uma planta ao ser replantada.
ResponderExcluirBeijos
Voltarei para ler o texto, porque fiquei minutos a fio, contemplando essa imagem maravilhosa!!!
ResponderExcluirObrigada pela postagem.
Beijos no coração.