Fonte: Museu de Inhapim
“Minas Gerais:
há sempre uma procissão passando, um sino tocando nas igrejas e nos corações, e
uma conspiração em curso.
Ah, Minas Gerais: de onde vem
essa rua permanente, clandestina, diária, camuflada, subversiva inconfidência?
Vem dos cristãos novos, que se
asilaram em tuas cidades e aportuguesaram os nomes suspeitos?
Vem dos negros que fizeram de ti
a África-mãe?
E essa tua mania, Minas Gerais,
de ser altaneira, de não ficar de joelhos a não ser diante de Deus e dos teus
santos de fé, e, ao mesmo tempo, ficar olhando para o chão, para os lados, de
nunca encarar o teu interlocutor ou inquisidor, de onde vem teu jeito simulado,
Minas Gerais?
Por que sempre parece que tens
medo, Minas Gerais?
Por que tua coragem, de dar um
boi para não entrar numa briga e uma boiada para não sair, vem sempre
travestida, disfarçada?
Por que, Minas Gerais?
Amo em ti, Minas Gerais, não
apenas essa rebelião que carregas no peito como um vulcão clandestino, amo em
ti o culto dos sonhos impossíveis.
A liberdade era a amante mais
desejada, mais sonhada de Tiradentes, era seu sonho impossível - e, por ele,
Tiradentes morreu.
Teu filho Santos Dumont deu asas
ao impossível sonho humano de voar.
E antes de Santos Dumont, o que
foi o Aleijadinho, senão um mágico que transformava em realidade impossível
sonhos em pedra-sabão?
Minas Gerais: Juscelino plantou
uma flor de concreto, a que deu nome de Brasília, no cerrado. Era também a
realização do impossível. E teu filho e rei, Pelé, nascido em Três Corações ,
escolhia os mais tortuosos e difíceis caminhos para o gol, e sempre perseguiu o
gol impossível, o único que não conseguiu realizar: o de surpreender o goleiro
com um chute de longa distância.
Minas Gerais: amo em ti a
contradição.
Aqui, tu acendes o fogo,
incendeias os corações: ali tu és, minas Gerais, a água na fervura, a água
apagando o fogo.
Tu és sertão e cidade, és o
passado e o presente, és o Rio Doce e rios amargos, trágicos, és um casarão com
38 janelas e és uma casa moderna e ensolarada.
Por que sonhas, Minas Gerais?
E por que, Minas Gerais, quando
sorris, quando estás alegre, sempre acabas punindo tua própria alegria, como se
ela, como tus sonhos de liberdade, te fosse proibida?
Por que sempre estás pensando que
comete um grave pecado, Minas Gerais?
Por que teus filhos rezam mesmo
quando são ateus?
Por que, Minas Gerais, por quê?"
Roberto Drummond
Bela cronica! Um abraço daqui do sul do Brasil. Tenhas uma linda semana.
ResponderExcluirQue lindo!!! Sempre legal te ler! bjs,chica
ResponderExcluirBela homenagem e como sempre ótima escolha a sua Edna!
ResponderExcluirReconhecer e honrar as próprias origens é motivo de muitos,muitos cumprimentos,parabéns!
Lindo lindo,acerca de teu amor por Minas Geraes UAI!
ResponderExcluirAmei!
Saudades Cara Amiga
Girassóis em profusão
Nossa Minas Gerais, terra de tantos artistas e poetas, como não sou poeta admiro os grandes poetas da minha terra.
ResponderExcluirBj
Belíssimo Edna!Tenho amigas de Minas e copiei pra partilhar.Grande abraço pra ti,bom dia!
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